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Pretendem os que professam esta doutrina, achar nela a demonstração de alguns dos atributos de Deus: sendo infinitos os mundos, Deus é, por isso mesmo, infinito; não havendo o vazio, ou o nada em parte alguma, Deus está por toda parte; estando Deus em toda parte, pois que tudo é parte integrante de Deus, ele dá a todos os fenômenos da Natureza uma razão de ser inteligente. Que se pode opor a este raciocínio?

A  razão.  Reflitam  maduramente  e  não será difícil a vocês
reconhecerem o absurdo.

Comentário de Kardec: Esta  doutrina  faz  de  Deus  um  ser  material  que,  embora dotado de suprema inteligência, seria em ponto grande o que somos em ponto pequeno. Ora, transformando-se a matéria incessantemente,  Deus,  se  fosse  assim,  nenhuma  estabilidade  teria; acharia-se sujeito  a  todas  as  vicissitudes,  mesmo  a  todas  as
necessidades  da  Humanidade;  lhe faltaria  um  dos  atributos essenciais da Divindade: a imutabilidade. Não se podem aliar as propriedades  da  matéria  à  idéia  de  Deus,  sem  que  ele  fique rebaixado ante a nossa compreensão e não haverá sutilezas de sofismas  que  cheguem  a  resolver  o  problema  da  sua  natureza íntima. Não sabemos tudo o que ele é, mas sabemos o que ele não pode deixar de ser e o sistema de que tratamos está em contradição com  as  suas  mais  essenciais  propriedades.  Ele  confunde  o Criador com a criatura, exatamente como o faria quem pretendesse que engenhosa máquina fosse parte integrante do mecânico que a imaginou. A inteligência de Deus se revela em suas obras como a de um pintor  no  seu  quadro;  mas,  as  obras  de  Deus  não  são  o  próprio Deus, como o quadro não é o pintor que o concebeu e executou.